terça-feira, 31 de maio de 2016

Ansiedade, Minha Companhia

Somos o país europeu com mais casos diagnosticados de ansiedade e com as doses mais elevadas no consumo de psicofármacos. Para este flagelo contribuem, em parte, o envelhecimento da população e as circunstâncias de vida (separações, desemprego, precariedade), mas o principal “vilão” parece estar na prescrição e no consumo excessivo de medicamentos. Desde que a Direção Geral de Saúde adotou as orientações internacionais, há cinco anos, que a classe médica conhece o período de referência máximo para toma de ansiolíticos (três meses), largamente ultrapassado, como comprovou o estudo realizado pela da DECO, em 2013: um quarto dos 2 069 inquiridos consumia-os (por vezes, durante mais de um ano) e um em cada quatro exibia sinais de dependência.

Como é estar na pele de quem sofre de ansiedade? Ana Clara Ramos (ao centro) vive com esta perturbação há duas décadas e conta como tem gerido os momentos mais críticos e o que aprendeu com isso e o que faz para manter e, até, melhorar a sua qualidade de vida. Com ela, a psiquiatra Teresa Leonardo, que traça o perfil da doença Veja o Video

Limitar consumo sim, mas...
O diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro de Carvalho, defende que é urgente inverter a tendência, investindo nas boas práticas médicas (redução da prescrição e formação dos clínicos) e na limitação de incentivos ao consumo (reduzindo as comparticipações, que hoje já têm um limite de 37 por cento). Estamos a falar de benzodiazepinas (BDZ), prescritas para combater sintomas ansiosos, mas “que são altamente viciantes e cujo abuso têm efeitos nefastos nas funções mentais e psicomotoras, a curto e médio prazo”, lembra o psiquiatra Ricardo Gusmão, presidente da EUTIMIA – Aliança Europeia Contra a Depressão em Portugal. O médico refere-se aos casos de “défices cognitivos e demências que deixam de existir após o desmame das BDZ”, bem como aos acidentes de viação e às fraturas por quedas.
“Temos um grave problema de saúde pública e estamos na linha da frente entre os países da OCDE, em matéria de doses diárias de consumo de psicotrópicos”, acrescenta Ricardo Gusmão. Entre as medidas que estão a ser ensaiadas para alterar este cenário, destaca-se um programa de desabituação, promovido pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Resta saber como o Ministério da Saúde vai separar o trigo do joio (real necessidade de toma v.s. abuso) e que recursos vai alocar para este fim (profissionais de saúde, psicoterapias).

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