quarta-feira, 29 de julho de 2015

Superar Crises, Começar de Novo

Como começar de novo, quando o céu se abate sobre nós? É possível que nos venha à mente algo semelhante à questão «Can you see the real me?», como cantava Pete Townshend, da legendária banda The Who. Qual a fórmula para voltar a ter esperança, sem medo de cair de novo e ficar entregue ao desamparo, no meio da multidão?

O filme que vi há dias, data de 2007.  Reign Over Me (Em Nome da Amizade, em Portugal), do argumentista e realizador Mike Binder, tem como chamada de cartaz a frase «Let in the unexpected» e conta a história de dois amigos de universidade que se cruzam, bons anos depois, ambos em momentos de crise.


Alan (Don Cheadle), com uma excelente carreira em medicina dentária, uma família feliz e um estilo de vida luxuoso, vive angustiado pela falta de propósito e liberdade. Charlie (Adam Sandler), o seu antigo companheiro de quarto, com a sua vida desfeita, após a morte da mulher e das três filhas, no ataque terrorista do 11 de setembro. A incapacidade de sentir gratificação e desfrute de um e o processo de negação do outro equivalem a duas faces da mesma «tragédia» existencial.

A intensa e perturbadora relação entre ambos - e as diferenças de personalidade que os separam mas complementam - vai tornar possível, de forma inesperada, a emergência de uma versão mais genuína de si mesmos. Charlie aceita procurar ajuda clínica - e arriscar-se a confiar num(a) desconhecido(a). Alan abre-se a uma forma de se conduzir-se radicalmente diferente, porventura mais arriscada, mas certamente mais plena.

                                                           Liv Tyler, no papel de Terapeuta
Nada disto é isento de dúvidas, medos, frustrações e sentimentos avassaladores. Fugir-lhes e tentar esquecer o que magoa, seria renunciar à tomada de consciência, por vezes demasiado dura de suportar. É o que muitas vezes acontece, na vida real. Porém, confiar no processo tem o mérito de manifestar-se, com frequência, em melhores escolhas e ser capaz do impensável: largar becos sem saída, zonas de (des)conforto familiares. «Mais valem os males que conhecemos».  

Pouco importa se foi a atitude disponível e empática da terapeuta, a convicção persistente do amigo na capacidade de superação de «um caso perdido», ou referências musicais partilhadas entre os dois que funcionaram como a «tábua de salvação» e o passaporte de Charlie para um lugar seguro, à prova do caos que quase o conduziu a um desfecho fatal.  

                                           Ver Vídeo: The Who - Love Reign Over Me (1973, álbum Quadrophenia)  
A banda sonora acompanha os diferentes ritmos e ambientes da ficção.  tem esse potente efeito, protetor e catártico, apenas comparável ao que podemos sentir na diversidade e intensidade dos movimentos do mar. Entrar no mundo de alguém, especialmente quando atravessa uma fase de grande perturbação, conseguir conter-se e conter, ficar de pé quando se lhe atira «o barro à parede», é ver mais além, mar adentro. É dessa disponibilidade e entrega, à prova de obstáculos, que se experimenta a plena sensação de estar desperto, livre para ser quem se é (e não é), Na vida, na amizade, no amor.




sexta-feira, 24 de julho de 2015

A vida depois da morte de um filho


A hospitalização da jornalista Judite de Sousa, após ter sido encontrada inconsciente no passado fim de semana, mereceu a republicação de um artigo que escrevi para a revista Visão, aquando do trágico acidente fatal do seu filho, no inicio de Julho do ano passado. 
Em A Dor Sem Nome, pode encontrar testemunhos de quem sofreu a perda - a morte - de um filho, uma das mais duras experiências que se pode ter e a palavra dos profissionais de ajuda que contactam com estes casos na sua prática clínica. 


Pormenor de "A Tragédia", Pablo Picasso

Reprodução

No final, uma mensagem comum aos que são próximos: mesmo que o tempo não cure a ferida, ele é crucial para minimizar a dor. Ou seja, por melhor que seja a intenção, a última coisa que alguém que atravessa este luto é incentivá-lo(a) - pressioná-lo(a) a seguir em frente, saltando etapas.