quarta-feira, 30 de abril de 2014

Quem quer um terapeuta de «linha branca»?


Aprendi no jornalismo que de nada serve ser um bom profissional (e pessoa), se não se é lido, ouvido ou visto (por alguns, idealmente vários, e há quem só se contente com muitos). E na psicologia (saúde mental e psicoterapias)? Parece que sim, que esta máxima também se aplica. Sinto-me tentada a chamar-lhe «saída  à americana» (das politicas de austeridade /espetro do desemprego dos terapeutas). De acordo com um artigo publicado há ano e meio, no The New York Times, assinado por Lori Gottlieb, não ter uma marca no mercado livre pode ser uma falha irreparável. O artigo questiona o papel e o posicionamento dos psicólogos que, sem o guarda-chuva das seguradoras e dos sistemas públicos de saúde, se vêem forçados a adaptar-se às leis do marketing, se quiserem viver da profissão.

Até há uma década, pelo menos nos EUA, bastava um diploma e supervisão para exercer a clinica privada e construir uma carteira de clientes. Agora não. Segundo a APA, que representa o setor, as intervenções clínicas sofreram uma quebra na procura em cerca de 30%, num período de tempo de 11 anos (análise de dados até ao ano de 2008), na proporção inversa do que sucedeu na indústria farmacêutica. Se os comprimidos podem ser anunciados e ter gigantescas campanhas de marketing, o mesmo não se pode dizer das sessões de terapia. 
Quem procura ajuda para as suas questões mais privadas quer profissionalismo e confidencialidade. E publicidade (também popularidade e exposição), quererá? O artigo faz querer que sim. À luz da economia global, os terapeutas também são marcas e, como tal, não dispensam os serviços de consultores comerciais para se posicionarem no mercado de trabalho ou minimizarem o risco de ter o consultório às moscas. É que os psicoterapeutas generalistas já «não vendem», pelo menos sem um «sound byte» que apele à cura rápida em questões muito específicas.  

Num cenário de expansão de aplicações para dispositivos móveis, os terapeutas que querem viver do seu ofício terão de moldar-se às necessidades dos potenciais consumidores e oferecer /anunciar soluções rápidas para problemas, quase como os técnicos de uma oficina automóvel. Mais: o cartão-de-visita só tem a mesma função que tinha (antes da web 2.0) se for ancorado num site interactivo e com uma boa dose de exposição pessoal. A explicação de Alison Roth, consultora de sites de profissionais de ajuda, a este respeito é esclarecedora: «A relação terapêutica é uma experiência íntima. As pessoas precisam de conhecer aquele(a) com quem vão estar, quando teclam o nome no Google. Querem sentir uma ligação pessoal e imediata.» Querem saber um pouco da história de quem está do outro lado: se foi filho de um divórcio, se passou por um trauma, se tem uma doença crónica.
Que lugar ocupa a postura empática e o insight do paciente, nesta nova lógica (metodologia / paradigma)? «Mostrar (ou demonstrar?) o caminho», de forma persuasiva, será terapia? Ou Consultoria (mentoria)? Se o cartão de visita diz que é um «promotor da felicidade» - há uns anos atrás, seria rotulado como banha da cobra - o seu detentor terá mais gente a consultá-lo do que optar pelo descritivo «psicoterapeuta» - hoje associado a «processo que envolve tempo, esforço e lágrimas»


No final da prosa, fiquei ainda a saber que quem deseja navegar nos mares da saúde mental deverá criar a sua própria almofada de recursos complementares (lançamento de livros, eventos de divulgação, sessões de formação temáticas, dicas online) e, assim, manter – ou aumentar – o seu rendimento. Seja.
Adeus, «linha branca» (ou terapeuta «tela em branco» para o paciente projectar / e consciencializar, por essa via, as suas fantasias e conflitos e ensaiar, em terapia, um modo diferente de estar numa relação de proximidade com alguém).
O meio é a mensagem, como dizia Marshall McLuhan. Na hora de causar uma boa impressão (ou uma ligação simbiótica) junto do destinatário (e numa economia de escala), o embrulho é fundamental. Para quem entra na corrida da comunicação de marca, o «problema» é saber quando parar. Quanto ao ofício propriamente dito, correm os terapeutas o risco de perder-se, entre papéis e laços? 
  
  


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Do Divã para a Cidade


Psicólogo americano traz a Lisboa documentário sobre cenários de trauma. Seguir em frente sem ficar perdido nos escombros, em Detroit ou noutro lugar do planeta, só é possível quando se criam pontes entre o fim e o princípio

Como se superam experiências de desmoronamento, que abalam o sentido de permanência? Camuflar ou passar uma esponja nos sentimentos de dor, perda, nostalgia pelo que não vai voltar a ser como antes, impede a transição, o estar bem com o depois, sem resistir às mudanças. No próximo sábado, dia 12, no encontro anual da AP (Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica), dedicado ao trauma, o psicólogo e psicanalista americano Richard Raubolt vai partilhar histórias de reconstrução humana que, ao longo de 35 anos, foram tendo lugar no gabinete de consulta (narrativas terapêuticas em forma de livro, Cenários Psicanalíticos do Trauma, Coisas de Ler, €17) e, mais recentemente, na paisagem urbana. 

Richard vive em Grand Rapids, no Estado de Michigan, a duas horas e meia de Detroit, cidade que conheceu e com a qual se envolveu (ali passou os tempos de liceu e esteve nos motins de 1967). Confrontado com o impacto visual da cidade fantasma e as reportagens fotográficas de edifícios sem gente, Richard entendeu que era preciso levar o olhar terapêutico ao bairro, à periferia e dar a ver outras realidades. "Abordei residentes, artistas e activistas, nos mesmos moldes em que o faço em contexto clínico, para os protagonistas expressarem os sentimentos e as histórias por que passaram, e do que estão a fazer com isso."
Detroit: In Between é uma viagem de 34 minutos, com a voz e os rostos de seis pessoas que habitam - e intervêm - na cidade em transição. Os espaços renovam-se, ganham outras funcionalidades, sem abandonar as que as antecederam, ou melhor, reconhecendo-lhes valor. Como a casa cortada a meio por uma nova estrada em construção que, em vez de demolida, é parcialmente usada para iniciativas culturais. "Os rituais de luto individuais e a expressão criativa permitem criar algo intermédio, onde o velho e o novo possam coabitar", explica o terapeuta /realizador. "Eliminar ou negar o que foi traumático impede que a mudança aconteça, que tenha direito a um lugar."      
Os fantasmas do passado das vítimas representam assuntos não resolvidos e intergeracionais, que merecem, segundo o autor, uma abordagem terapêutica mais ampla, "que se guia menos pelas interpretações académicas e se aproxima mais do paciente, sem temer a intensidade emocional que isso envolve". Na sala de consulta e no tecido urbano: "Precisamos de entrar na cidade, vê-la a partir de dentro e usar as competências clínicas em projetos com um alcance direto, que tragam significado à vida das pessoas."
C.S.
(publicado no site da Visão, a 11.04.2013)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

A importância da atenção II


No Clube de Inteligência Emocional na Escola - Aprender a Ser Feliz, desenvolvido pela professora Manuela Queirós, os participantes aprendem a desenvolver competências emocionais e fazem exercícios de consciência corporal.

A funcionar em 20 escolas públicas do País, este programa de «treino» é realizado em sessões semanais. A funcionar há quatro anos, realiza-se em sessões semanais. Para os filhos, mas também para os pais, estas sessões têm benefícios na promoção da auto estima e na regulação de emoções.

Nesta sessão, foi dado destaque ao tema da atenção, que o rendimento escolar não dispensa. A capacidade de foco, aliada à empatia, é decisiva para uma comunicação eficaz e revela-se útil na realização de tarefas que envolvem planeamento e cooperação.

Veja o vídeo: Clube de Inteligência Emocional para Pais e Filhos




quarta-feira, 2 de abril de 2014

Atenção!


«Está sempre distraído, pouco atento ao que se diz e mal se lembra do que deu nas aulas.» A queixa é comum a muitos encarregados de educação, também eles a braços com problemas de atenção («O que é que eu estava a dizer há pouco?» é a sequência provável de qualquer conversa, após mais uma notificação de mensagem no telemóvel). 

A dispersão mental é consequência natural – embora indesejada – das múltiplas exigências quotidianas (tecnológicas incluídas) ou a ponta do iceberg do grupo de perturbações do desenvolvimento, que vieram para ficar, como «marca de desadaptação» da espécie?



O tema mereceu a análise de especialistas e a visita a uma das escolas onde existe um clube de inteligência emocional para alunos e pais, iniciado há quatro anos e a que 20 escolas já aderiram. 

A Visão falou ainda, em exclusivo, com Daniel Goleman, sobre o seu novo livro, Foco

Para saber mais, leia o artigo desta edição, que lhe apresenta dicas para aliar a capacidade de foco à criatividade.