quarta-feira, 22 de maio de 2013

Caminhar sem medo


Se tem entre 40 e 64 anos... 
...já deu consigo a pensar «A vida não é fácil». Ou «O que custa é saber viver».
Se a sua economia pessoal está «em crise», e dá por si com escassa liberdade de movimentos, talvez esteja na altura de fazer ajustes, nos planos pessoal e/ou familiar. 
Em vez de marcar passo - como no refrão da canção «Try walking in my shoes» - lembre-se que tem o direito de procurar o «sapato» que melhor lhe sirva no pé. Situar-se e aliviar apertos pode passar por:
  • Libertar-se de condicionamentos que funcionaram noutras alturas, mas que agora não se aplicam
  • Cultivar o equilíbrio entre gerações, sem esquecer o seu
  • Sintonizar os planos pessoal, profissional e social

Faça a sua própria checklist para facilitar a tomada de decisões que naturalmente surgem nesta etapa da vida. Aqui ficam alguns tópicos.


Economia familiar
- Crie limites - se não quer ver as suas poupanças a voar, defina a quota-parte da responsabilidade dos filhos crescidos na educação (bolsas, trabalhos part-time) e conte com o orçamento dos pais para as necessidades deles
- Conte com imprevistos - equacione a possibilidade de ter os descendentes de volta ao ninho, mesmo que temporariamente, e de ter reservas à mão para socorrer os seus pais, se ficarem dependentes de si por mais anos e com recursos escassos
- Não fuja das decisões difíceis - conheça os planos dos pais para o futuro e discuta-os com eles no seio familiar (seguros, depósitos, onde ficar no fim de vida, decisões legais, cuidados médicos)

Economia individual
- Cuide de si - defina o que é essencial para satisfazer necessidades pessoais, sem queimar o orçamento com os outros membros do clã e poupe para a sua própria reforma  
- Simplifique - aceite o que não pode mudar (condição física, mudanças de estatuto profissional, projetos que não deram certo e outros fatores não esperados)
- Crie a sua rede - mantenha-se em contacto com amigos e conhecidos, na sua comunidade ou virtualmente, para partilhar interesses e resolver problemas, sem isolar-se
- Cultive a gratidão - Tenha presente o que conseguiu construir e alcançar (iniciativas, trabalho, família) e aquilo que ainda tem (tempo, ideias, capacidades, afetos)


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Só para Middle Agers


Sente-se «ensanduichado»? Sem espaço para a tal plenitude que sonhou ter, chegado a meio do caminho da vida? 3 níveis de dificuldade (ou de complexidade) a ter em conta, porque fazem parte do processo, nas condições atuais.

Desafio 1: Longevidade
O aumento da esperança de vida tornou possível coexistirem até cinco gerações. Uma conquista, sim. E novas questões. Em Portugal, a geração sanduíche representa 34% da população, com 3,6 milhões de pessoas que, entradas na meia-idade, se dividem entre as solicitações dos pais, que vivem mais tempo, e dos filhos, cuja autonomia tarda em chegar. E enfrentam, ao mesmo tempo, transformações pessoais (estado de saúde, mudanças laborais, separações, lutos).

Desafio 2: Sustentabilidade
O grande desafio desta etapa, hoje mais incerta do que era expectável no final do século XX, alterna entre sobreviver ao papel de âncora da família e voltar a depender dos mais velhos, em tempos de aperto. Dos cerca de milhão e meio de desempregados, apenas 370 mil recebem apoios mensais do Estado. O País tem quase 20% de idosos, 3% dos quais dependem dos descendentes (os que estão na meia idade). Estes e suportam as despesas com os filhos por mais tempo que o expectável, já que entre os 15 e os 24 anos, 70% dos jovens portugueses estão a cargo da família.

Desafio 3: Autonomia
Por força das circunstâncias, a ‘crise do ninho vazio’ – quando os filhos vão à sua vida – está a ser suplantada pela dos ninhos cheios ou, até, sobrelotados. Na prática, a casa de família pode ficar mais vazia, para no momento seguinte voltar a encher-se, ao ritmo das mudanças imprevistas, no mercado do trabalho e no mundo dos afetos. Apoiar-se nas ajudas dos idosos é algo que começa a ser cada vez mais normal entre os que estão «no meio da sanduíche». Segundo o último Censos, 10,3% dos que estão na meia-idade vivem a cargo de familiares, na sequência de divórcio, perda de casa ou do posto de trabalho. Ou em face de um diagnóstico de doença mental grave (Portugal ocupa o primeiro lugar na Europa com uma prevalência anual de 23%). Também os seniores, contando com uma velhice tranquila e uma pensão segura, se vêem confrontados com a perda de qualidade de vida, se tiverem de ser a base para um filho adulto, do grupo dos «entas», que deles depende.

A situação pode ser desesperada, mas não é para ser levada tão a sério. É possível criar pontos de equilíbrio, por mais instáveis que sejam. E ganhar algum distanciamento e espaço para existir.
(cont.)

Maduros, mas pouco seguros


Se tem entre 40 e 64 anos, este é o tempo para desfrutar a vida sem pedir licença e por mérito próprio. É o tempo de saborear metas alcançadas e aspirar, ainda, a realizar plenamente sonhos por cumprir. 
O meio da vida pode ser tudo isto, mas é também um desafio à capacidade de gerir tensões acrescidas. Na linha do tempo, os middle agers sentem-se hoje mais entrincheirados do que há duas décadas atrás, entre os seus filhos e os seus pais. 
A tão almejada autonomia tranquila parece ficar cada vez mais comprometida para a «geração sanduíche», como lhe chamou o psiquiatra americano Michael Zal, nos anos 1990. Entrar nos «entas» afigura-se um desafio mais complexo, que requer uma ginástica singular e criativa, a condizer com os tempos pós modernos, líquidos e, por vezes, com poucas pausas para respirar. O que fazer?

Um minuto com… o psiquiatra H. Michael Zal

Ganhou fama mundial com a obra A Geração Sanduíche: Entre Filhos Adolescentes e Pais Idosos (ed. Difusão Cultural). Tem 71 anos, exerce clínica privada há mais de 40, no Estado da Pensilvânia.

O que mudou desde que escreveu o livro?
Há mais tempo de vida. Procura-se ficar ativo pelo maior tempo possível, também pelo receio de ficar excluído ou à mercê de serviços assistenciais. O envelhecimento ainda não é socialmente respeitado.

Que dificuldades são mais comuns hoje, quando se chega ao meio da vida?
Os problemas de emprego, de proteção social e na saúde. Jovens e seniores estão a voltar para a casa de família quando ficam sem trabalho. Não é fácil, mas todos encaram a situação como transitória. As maiores dificuldades são emocionais: deixar sonhos não realizados e ver as metas atingidas como suficientes.

Como viver ensanduichado no panorama atual e tirar proveito disso?
Ter expectativas realistas. Respeitar o espaço próprio, sem esquecer o dos outros, que acontece muito em períodos críticos. Criar oportunidades de diversão, mesmo na adversidade, porque aproxima as pessoas e melhora a convivência entre gerações.

(cont.)