segunda-feira, 28 de março de 2011

O lado obscuro do amor

A essência do amor tem muitas formas de expressão. As mais tempestuosas reflectem a faceta sombria da nossa natureza sempre que nos atormentamos com aqueles que mais amamos.

Clara Soares
(publicado em http://mulher.pt.msn.com/relacoesefamilia/)

(imagem do blog China VillaMellera)

Houve tempos em que Isabel Aguiar, de 39 anos, se levava demasiado a sério. Mas chegou o dia em que se deu conta de certas situações que se repetiam de forma sistemática na sua vida. O marido, a melhor amiga, a sócia do negócio de pronto-a-vestir, pessoas que prezava e de quem não prescindia para a sua felicidade e bem-estar, tinham sido, primeiro que tudo… suas inimigas ou rivais!

“Percebi isto numa altura em que tudo me irritava, nada estava bem, faltava sempre alguma coisa”, lembra a empresária. Faltava o desafio, aquela luta que só o confronto do tipo cão-e-gato permitem. Em todas as ocasiões que tal se proporcionou, a resposta ao apelo foi sempre “sim”. Partiria dela esse rastilho de conflito e rebeldia, que resultava em emoções fortes e atitudes corrosivas?


Admitir fraquezas e defeitos de carácter é um assunto tabu, que remete para uma realidade escondida porque inaceitável, em geral. A questão era familiar para o psicólogo suíço Carl Jung, que dedicou parte da sua vida a estudar os enigmas da personalidade humana, tendo construído uma teoria em que defende que o inconsciente se manifesta de duas formas opostas: os aspectos aceitáveis da pessoa, e as partes obscuras, como os instintos primitivos e animais, herdados no processo evolutivo da espécie. Jung apelidou de Persona e Sombra estas duas facetas do Self. Nas sessões de psicoterapia, tinha como meta facilitar aos seus pacientes a fascinante, por vezes árdua, tarefa de trazer ao plano consciente estas dimensões do inconsciente. Uma das vias para o efeito era pedir aos alunos para pensarem em alguém de quem não gostassem ou odiassem até. Depois, era preciso fazer uma descrição escrita dos aspectos reprováveis dos visados. No final da tarefa, bastava que escrevessem no topo da página “A minha sombra”.


Numa perspectiva clínica, tendemos a ver nos outros partes de nós que não conhecemos, que tememos e por isso condenamos. Aforismos como “Quem desdenha quer comprar” ilustram verdades partilhadas pelo mais comum dos mortais, que nos lembram por que nos é tão natural reconhecermo-nos em alguém que detestamos sem saber o motivo. Esta teoria explica por que escolhemos por vezes para parceiros ou amigos do peito justamente os que nos levam a perder a razão.

No quotidiano, existem outras formas de viver este lado oculto, comum a cada um de nós. “Este lado revela-se na forma como conduzimos ou estacionamos o carro, mas também através de comportamentos agressivos, de atitudes dispersas.” Para a astróloga humanista Conceição Espada, os estilos de vida que as pessoas adoptam permitem identificar desequilíbrios entre os lados racional e emocional, entre as facetas da personalidade que são vividas como positivas e reconhecidas socialmente, e as outras, menos aceitáveis ou reprimidas. Só através da tomada de consciência dos aspectos latentes do ser é possível conhecer-se profundamente. O sistema desenvolvido por Conceição permite a vivência de aspectos menos explorados da personalidade.


Com a duração de dois dias, o workshop de astrodança/astrodrama combina os conceitos Jungianos com a interpretação dos quatro elementos naturais e dos planetas nas cartas astrológicas. Cada significado simbólico atribuído a um planeta, por exemplo, assume a forma de exercícios individuais ou em grupos, com recurso a técnicas teatrais, expressão corporal, dança, relaxamento e desenho. Após dois anos de experiência neste projecto, a astróloga reconhece que o trabalho não podia ser mais gratificante. “A pessoa é confrontada psicológica, física e emocionalmente com os seus medos e dificuldades de relacionamento.”

Que o diga Madalena O´Neill, de 40 anos, mãe de duas filhas, e até há pouco tempo recepcionista num campo de golfe. O curso permitiu-lhe ver-se ao espelho a partir de vários ângulos e mudar a sua vida, actualmente orientada para as artes.


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Viciadas no amor

Estranha forma de vida, essa que tantas vezes sentimos como nossa. Se tivesse um sabor, poderia ser agridoce. E se tivesse uma cor, talvez pudesse ser púrpura. Porém, é a ausência de cor que melhor define este estado de alma.
Clara Soares
(publicado em http://mulher.pt.msn.com/relacoesefamilia/)



Zélia é uma profissional de sucesso. Ultrapassada a barreira psicológica dos 40 anos, estaria realizada e feliz. Divorciada há 14 anos, só tem tido olhos para o namorado, que continua a viver sem ela e com outras relações pelo meio. Zélia foi alimentando a esperança de que um dia ele mudasse para ficar a seu lado, depois de tantas provas de dedicação e carinho. "Sou para ele a número um. O problema é que se farta das pessoas e está convencido de que uma relação estável não faz parte dos seus planos", diz.

Miguel, "uma pessoa bem colocada na vida, a nível académico e familiar", chegou, em tempos, a concordar em comprarem uma casa para ambos. Mas o projecto deixou-o numa tal angústia que acabou gorado. As esperanças ficaram mais abaladas quando Zélia soube por terceiros que a sua paixão acabara de ser pai de uma criança, fruto de um dos seus casos.


A princípio foi um choque, mas a sua capacidade de perdoar venceu. O que não esperava era que a mãe daquela criança voltasse a ficar grávida. Ainda tentou fazer orelhas moucas às pessoas amigas que viam nele um marialva incorrigível, chegou mesmo a iniciar um relacionamento com "uma pessoa honesta, espectacular", que lhe foi apresentada e com a qual saiu durante dois anos. Porém, terminou a relação por chegar à conclusão de que o amor de sempre não lhe saía da cabeça. "Estou sempre a condicionar a minha vida à disponibilidade dele e perdi a confiança, mas ainda não me mentalizei de que o problema é meu e que, mais cedo ou mais tarde, vou ter de desistir de nós", confessa, com amargura.Sem forças nem estabilidade emocional, Zélia apoia-se na medicação para a tensão arterial descontrolada, de origem nervosa, e toma diariamente ansiolíticos. Ficou internada alguns dias num hospital, tendo a única visita dele durado escassos minutos. Cansada de dar e de sofrer, equaciona pela primeira vez a possibilidade de sair deste filme, ainda que não saiba muito bem como.


"Fui uma mulher que amou demais quase toda a vida, até que o preço para a minha saúde física e mental passou a ser tão elevado que fui forçada a analisar rigorosamente o meu padrão de relacionamento com o sexo oposto." A confissão é da psicoterapeuta familiar Robin Norwood, autora de um best-seller, "Mulheres que Amam Demais" (Editora Sinais de Fogo)."Usamos os relacionamentos para afastar a dor", justifica Robin, "do mesmo modo que recorremos a substâncias que viciam, como as drogas e até o trabalho excessivo." Partindo da ideia, consensual entre psiquiatras e psicólogos, de que a incapacidade para viver relacionamentos sãos se alicerça em padrões de comunicação disfuncionais aprendidos na infância e ao longo da adolescência, a autora apresenta inúmeros casos que acompanhou durante a sua prática clínica. Têm em comum o facto de se fascinarem por pessoas que irradiam problemas e uma dependência da emoção, nomeadamente da emoção negativa.

Esta atracção por parceiros ausentes, negligentes, violentos (física ou psicologicamente) ou imaturos é praticamente inevitável, particularmente no caso de filhos adultos de pais alcoólicos, toxicodependentes ou com segredos e disfunções familiares. De forma inconsciente, acabam por envolver-se com pessoas muito parecidas com o pai ou a mãe com quem tiverem problemas ao longo do crescimento, perpetuando o tipo de comunicação que conhecem, na tentativa de resolver um conflito que lhes causou mágoa, dor ou raiva.

Neste sentido, defende a especialista californiana, o envolvimento com uma pessoa "normal" afigura-se insípido e monótono, porque lhe falta a intensidade dramática, a luta e a emoção da incerteza que geram, neste caso, a impressão de se estar vivo. Quanto maior for o sofrimento vivido em criança, mais forte será a tendência para o recriar e controlar na idade adulta. "Não existem coincidências nos relacionamentos nem acidentes no casamento", conclui Robin.

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