domingo, 23 de janeiro de 2011

Independência emocional

A psicanalista Mariela Michelena, a autora do livro Mulheres Mal-Amadas (A Esfera dos Livros), desmonta o puzzle emocional feminino residente nas mulheres para quem “amar é sofrer”. Alternativa? Rever e mudar de crenças e seguir em frente, de cabeça erguida.



Amar não é sofrer.

Por Clara Soares

Porque se interessou por este assunto?

Quando comecei a receber no consultório mulheres de todas as idades, profissões e estratos sociais, que pretendiam acabar com o sofrimento provocado por relacionamentos insatisfatórios. Todas tinham em comum a escolha do parceiro errado. Mesmo quando terminavam, por exaustão, envolviam-se logo a seguir numa relação parecida: dor, dependência do outro, ansiedade.

Que se passa com essas pessoas?

Pode ter havido um pai que não estava presente ou não satisfez as necessidades afectivas da filha, em pequena. Essas são as que vão depois sentir-se atraídas por homens que não cuidam, que não estão atentos.

Se é assim, é preciso que existam homens com um padrão específico, para se ligarem a elas.

Tradicionalmente, os homens procuram uma mulher como a mãe.

O que leva uma mulher ao fracasso amoroso?

Somos biologicamente programadas para nos esquecermos de nós durante alguns meses por um bebé. O problema é quando a mulher usa a função materna com um senhor com bigode!.

Como reagem quando se dão conta desse equívoco?
Ficam surpreendidas, às vezes chocadas. O lado positivo da questão é descobrir que podem mudar essa maneira de estar, aos poucos. “Que acontece se eu não responder à chamada dele?” “E se eu decidir não ir ao seu encontro no fim-de-semana e optar pelas amigas, como ele costuma fazer?”

O amor sem reservas não existe?

Um amor incondicional pode parecer muito generoso, mas é também uma forma de egoísmo, que não leva o outro em conta.

Mas nestas relações o outro é que é visto como egoísta.

Sim. Fala-se muito da baixa autoestima nestes casos, mas não concordo. Acho antes que estas mulheres têm uma auto-estima exagerada. Sentem-se omnipotentes, dispostas a perdoar tudo e a mudar o outro.

O que fazer neste caso? Estabelecer limites?
Precisam conhecer-se, descobrir o que gostam e o que esperam de um homem. Definem-se os limites logo no início.

Continua válida a máxima “elas querem mais afecto e menos sexo”?
O sexo interessa a homens e mulheres, o relógio biológico de cada um é que é diferente. No plano inconsciente, o primeiro encontro de um homem leva-o a perguntar: “Poderei ir para a cama com ela?” No feminino, a questão é algo do género: “Como seria ter um filho deste homem?” Pensamos no sexo, mas o desejo de constituir família é muito forte.

Porque há tantas mulheres sozinhas?
Depois dos 40 a solidão é dura. Há mulheres desesperadas, querem uma relação a todo o custo. Eles suportam menos a solidão e têm uma gama maior de escolha, são menos exigentes. Um quarentão pode escolher uma parceira com 20 ou outra com 40 anos. Uma mulher madura pode eleger um de 45 ou 50, porque o que tem 60 é capaz de não lhe agradar para o sexo e o de 20 não vai olhar para ela, quando tem outras mais novas.

Diz-se que quem muito escolhe pouco acerta.
As mulheres têm uma maior capacidade para estarem sós, em relação aos homens, porque vão construindo uma rede social, onde as amigas têm várias funções protectoras.

Mas aspiram sempre a uma relação íntima estável.
Não é esse um desejo legítimo? Se lhes traz sofrimento é um mau negócio. Os anos vividos ao lado de alguém que não gosta de nós são anos perdidos que podiam ter sido usados na procura de outro parceiro, que valesse mais a pena.

Quais são os erros de percepção mais comuns a ambos os sexos, nas relações íntimas?
O homem pretende uma mãe, a mulher deseja um deus. Há que enfrentar decepções e seguir em frente, construir relações. Os problemas e marcas de infância não justificam uma vida insatisfatória, é preciso assumir a responsabilidade pelos nossos actos.

www.maxima.pt (in MSN)

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